Autor: Afonso Cruz
Editora: Companhia das Letras
Sinopse:
Nos últimos tempos, quando sinto os lábios da Clarisse a tocarem os meus comprovo que não tem historia, já não convocam o primeiro beijo que demos. Creio que numa relação, o beijo terá sempre de manter a densidade do primeiro, a historia de uma vida, todos os pores do sol, todas as palavras murmuradas no escuro, toda, toda a certeza do amor. Mas já não é assim. Agora sabem as vacinas que tínhamos de dar a cadela (já morreu), as conversas com o diretor da escola, a loiça por lavar, a lâmpada que falta mudar, as infiltrações no texto, as reuniões de condomínio. Toco levemente os lábios dela e sabe-me a rotina, as finanças, ao barulho da maquina de lavar roupa beijamo-nos como quem faz a cama. Um homem sofre desmesuradamente com as noticias que lê nos jornais, com todas as tragedias humanas a que assiste. Um dia depara-se com o facto de não se lembrar do seu primeiro beijo, dos jogos de bola nas ruas da aldeia ou de ver uma mulher nua. Outro homem, seu vizinho, passa bem com as desgraças do mundo, mas perde a cabeça quando vê um chapéu pousado no lugar errado. Contudo, talvez por se lembrar bem da magia do primeiro beijo- e constatar o quanto a sua vida se afastou dela-, decide ajudar o vizinho a recuperar todas as memorias perdidas. Uma historia inquietante sobre a memoria e o que resta de nos quando a podemos. Um romance comovente sobre o amor e o que este precisa de um para merecer esse nome.